A arte de baleiar e a web 2.0 (ou Baleias, donuts e a web 2.0)

Bruno ParodiInternet e Mídia7 Comments

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Já estava nos meus planos fazer um post traçando um pequeno paralelo entre o Orkut e o Twitter. O “Bad, bad server. No donut for you” orkutiano e a baleia twitteira içada pelos resistentes passarinhos têm muito mais em comum do que supõe a nossa vã filosofia. Mas, não posso negar, as lambanças recentes de ambos os serviços foram fundamentais para acelerar a sua redação.

No último final de semana o serviço de storage do Twitter, o popular Amazon S3, ficou bem instável, impactando na disponibilidade desse querido microblog. Imagens quebradas e outras maldades tiveram farta distribuição juntos aos usuários. Mas, quem acompanha sabe que esse foi apenas o estopim de vários problemas constantes, que vão da indisponibilidade total do serviço ao castramento de várias funcionalidades importantes, como o uso de Instant Messenger na publicação/recebimento de posts/mensagens.

Há uns 10 dias uma amiga me pediu socorro pois seu perfil no Orkut tinha sido alterado. Suas informações e sua foto foram para o espaço. Ela também sequer conseguia se logar no Gmail com os mesmos dados de acesso ao Orkut. Acabou mandando e-mail ao Google, que respondeu dizendo que a situação tinha sido restabelecida e que tudo tinha voltado a funcionar corretamente. A resposta sugere uma bela mea culpa, diga-se de passagem, uma vez que se eles não tivessem responsabilidade sobre o drama teriam retornado algo como “você é a responsável pelos seus dados de acesso. Se os perdeu, o problema é seu”.

Parecia um lance isolado, mas ontem quem utilizou a maior rede social para brasileiros, notou que boa parte dos nomes de seus amigos estava trocada, experimentando também vários outros inconvenientes. O que parecia pontual, se alastrou. Sabe-se lá se foi um DBA novato ou se ações mais malígnas, fato foi que a repercussão foi grande e desagradável. O ocorrido fez com que ninguém mais pudesse usar o serviço, dando de cara com um tapume do gênero “estamos em manutenção. Volte mais tarde”. (Comentário bobo em cima do que relatou o G1 no trecho linkado acima: imagine ir ao Twitter reclamar dos problemas e o Orkut e também encontrá-lo fora!) 

O conceito do bom e velho beta eterno pregado pela web 2.0 serve de escudo para escorregadas de tudo quando é tipo de serviços online. Quedas acontecem e fazem parte de qualquer projeto que está engatinhando e quer ficar em pé, mas tudo tem limite. E, como já dito, o conceito de que tudo está em desenvolvimento na internet atual acaba ajudando a tolerar tais falhas.

O nível de qualidade oferecido tanto pelo Orkut quanto pelo Twitter já estiveram ou estão bem abaixo do aceitável e, pelo menos a olho nu, ninguém arreda o pé deles. Talvez a grande razão para isto esteja no social graph, ou seja, nas conexões entre você e seus amigos, conhecidos etc. Se não fosse isto (e não fosse tão complicado migrar todos os contatos para um concorrente) talvez mais gente já tivesse abandonando esse barco. Viva as relações sociais!

O neologismo constatado pelo surgimento do verbo “baleiar” é o reflexo disso. Baleiar nada mais quer dizer do que sair do ar ou ratear, estar indisponível. Se um site saiu do ar, ele baleiou. E tudo isso graças àquela belezura de baleia que o Twitter exibe quando algo de errado acontece com o seu sistema. E já tem até site, como o www.baleiando.com.br, para tratar (e tirar um sarro) de problemas desse quilate.

Ainda bem que ainda há humor entre os usuários. Afinal, já já será normal encontrar mensagens de erro com baleias sem qualquer donuts sendo levantadas por pássarinhos felizes. Vai ter gente rindo, vai ter gente que não vai achar tanta graça. Enquando acontecer apenas com redes sociais e serviços não tão estruturais, a coisa pode continuar a ser vista como divertida. O problema vai ser quanto baleias e donuts começarem a visitar sites de bancos e outros serviços vitais. (Ainda bem que não os tenho visto por aquelas bandas… )


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7 Comments on “A arte de baleiar e a web 2.0 (ou Baleias, donuts e a web 2.0)”

  1. BP, se eu fosse um Olavo de Carvalho relacionaria tudo isso ao gosto do brasileiro pelo ruim, tosco. Sem gana de contestar. Pode oferecer um serviço ruim que usaremos sem “reclamar” muito.

    Mas não sou!

  2. A amiga em questão, que teve o Orkut roubado, fui eu. Procurei o Parodi, desesperada, quando constatei que não havia esquecido minha senha, e sim alguém invadiu minha conta do Google, a alterou e mudou meu perfil do Orkut. Tudo aconteceu de repente. Eu estava no trabalho, com a página do Gmail aberta, checando e-mails e usando o Google Talk, quando fiquei offline. Ao tentar atualizar a página, minha senha foi pedida. Digitei uma, duas, três vezes, e recebia a mensagem de que o password era inválido. Só poderia ter dado um branco na minha cabeça, pensei eu. Então, tentei entrar no Gmail pelo Iphone, onde meus dados estavam gravados, mas a mesma mensagem de senha inválida aparecia. Cheguei em casa, entrei no Orkut pelo da minha mãe e vi que o meu perfil estava lá, só que com outro nome – “Camila Skina”. O Orkut dominado era o de menos. O pior era o Gmail, que eu uso há três anos, com contatos e dados pessoais. Me desesperei!! Mandei trocentos e-mails para o Google, dizendo que haviam invadido a minha conta e tive que responder algumas perguntas, como meu tempo de uso, endereços com os quais eu me correspondia com mais frequencia e um e-mail alternativo para que enviassem a resposta, caso constatassem o roubo. Felizmente, consegui reaver tudo. e, claro, parei de usar Orkuts clandestinos para driblar o sistema de onde eu trabalho. Esses sites alternativos pedem nome de usuário e senha e não são seguros.

  3. O melhor de todas as ‘baleiadas’ com certeza é do Google Docs: “Nós temos uma boa e uma má notícia para você. A má é que você encontrou um erro em nosso sistema. A boa é que você o encontrou e iremos corrigi-lo”

  4. Belo texto BP… eu já me peguei conjugando o verbo “baleiar” em outros contextos… se no Twitter as panes são fruto de não se esperar nem tanto sucesso nem esse perfil de uso, no caso do Orkut já não há desculpa. Quatro anos de crescimento mais contínuo do que vertiginoso são suficientes para se manter a casa em ordem.

    Mas é a ordem desse mundo beta: whale happens!

  5. Isso acontece pq esses sites não tem importância de negócio e pq não tem nenhuma instituição séria dependendo deles. Nem as pessoas dependem, na verdade. É divertido, é interessante, mas nada que não possa ficar 12h ou 24h fora do ar. Há meios alternativos de contornar isso.

    O S3 ter caído já é diferente, mais grave, porque eles vendem esse serviço e até então eram conhecidos por serem tecnologicamente virtuosos e confiáveis (acho que o próprio Twitter usa o S3 para uma parte da sua base). Quem é responsável por algum serviço ou negócio mais sério r que usa a web como plataforma pra ele pode ir tomando a segunda ou terceira dose das vacinas, pq enquanto isso acontecer não dá pra confiar. Quem tiver num negócio maior, tem que ter seus servidores em outro lugar, ou os seus próprios, com mil espelhos e backups.

    O resto é conversa fiada de bloguêro. 😉

  6. Pingback: Primeiras impressões sobre o Cuil - “o concorrente do Google” | Bruno Parodi.com

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