O dia em que Wando chorou na TV*

Bruno Parodi Cotidiano e Ficção Leave a Comment

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Wando é luz, é raio, é estrela, é luar. Manhã de sol, meu ia-ía, meu iô-iô. Compondo hits de última grandeza e colecionando calcinhas de todos os gêneros, o cantor recentemente conseguiu juntar a quantia exata para fazer a tão sonhada plástica napa-beiçal (nariz e boca). Enfim, tornou-se um gênio do brega; o mais tocado nos puteiros. Mas, o que muitos não sabem é que Wando já passou por momentos delicados, que quase arruinaram sua brilhante carreira.

A pior delas ocorreu em 1984 no programa de auditório “Cassino do Chacrinha”. O ídolo da música que embala as surubas nacionais era a atração principal daquela tarde de sábado de 24 de junho. Era dia de São João e o “Velho Guerreiro” teve a inédita idéia de enfeitar o estúdio com bandeirolas, pôr as Chacretes para vestir algo mais confortável e distribuir mesas com comidas típicas pelo ambiente.

Mais de 1.215 meninas lotaram apenas três carros para ver o ídolo; uma prova da paixão pelo astro poético. Metade veio de São José da Pica Lavada (AM) e o restante pegou carona durante o trajeto. Era o dia de Wando.

José Bonifácio de Almeida Braga Coutinho Pereira, o Boni, considerava aquele o grande momento da história da televisão brasileira, ficando atrás apenas do dia em que o homem pisou na Lua. Roberto Marinho fez questão de presenciar as filmagens. O então presidente da república João Figueiredo cancelou sua agenda para ver o canalhão Wando ao vivo. A apreensão era tanta que não havia nenhum ser humano vivo perambulando pelas ruas do País, fazendo lembrar os áureos dias de Copa do Mundo. Wando: herói nacional.

O programa iria ao ar às 16 horas, como de costume. Mas antes estava agendado aquele almoço político para a mídia e para os chefões da Globo. O cardápio não poderia ser mais saudável: feijoada de primeira com direito a patas de porco flutuantes e mousse de maracujá de sobremesa. Para acompanhar, vinho australiano e vodca russa. Até mesmo o cozinheiro foi conhecer pessoalmente a lenda, apertando a sua mão e dizendo: “será um almoço inesquecível”. O que importa é que Wando comia de tudo, e batia fotos para todos os jornais e revistas dando uma garfada para cada câmera. Uma foto, uma garfada. No final, havia comido uns 3 ou 4 pratos com toda a caloria existente no mundo.

Com uma calcinha vermelha em cada bolso – presente que ganhara das camareiras, que entregaram as peças fresquinhas, retiradas do corpo para as mãos do ídolo – Wando se dirigiu a entrada do estúdio, onde iria esperar ser convocado para seu número. Aquele calorzinho carioca fazia todos suarem. Naquela instância, o cantor já sentia o peso de uma bigorna em sua barriga. Mas, como todo bom hipócrita, fingiu não ter sentido nada. Não fosse a segunda pontada, Wando estaria sorrindo. No entanto, aquela cutucada em seu estômago o fez suar frio. Gelado. Enquanto isso, a platéia vibrava. Chacrinha se sacudia de emoção ao saber que estava alcançando 78 pontos no Ibope. Tudo graças ao rei da música sacana. A alegria do apresentador era tanta que resolveu abaixar as calças para o público, animando ainda mais o pedaço. As Chacretes também não paravam e já se estapeavam para saber quem agarraria o galã primeiro após o programa. A discórdia foi tão grande que a segurança precisou apartar a briga de duas dançarinas que trocavam agressões com o típico bacalhau distribuído pelo “Velho Guerreiro” aos espectadores. O caos estava instaurado.

No auge da baderna, o diretor berra que Wando iria entrar em 2 minutos. Foi o sinal para que metade das meninas da caravana começasse a despir suas roupas íntimas para saudá-lo em grande estilo. Naquele momento, Chacrinha recebia um tapinha nas costas de Roberto Marinho, que prometera um aumento e uma casa em Angra.

Explosão: Wando adentra o palco meio que manquitolando. Apesar da estranheza do fato, todos continuavam a pular e a gritar. Veio a primeira frase da música e com ela uma cascata de calcinhas e sutiãs. Duas fãs também desmaiaram. O que ninguém sabia era que uma revolução tomava de assalto sua barriga. O almoço lhe rendia tonturas e ilusões de ótica. Pausa para mais uma pontada e foi dada a largada para uma cena bizarra: Wando havia se cagado em pleno palco. O suor que corria pela sua testa se somou a uma lágrima de tensão. O diretor, indignado, mandou parar as filmagens. Chacrinha recebeu mais um tapinha de Roberto Marinho, só que agora ele foi dado em sua cara. As Chacretes se abraçavam em prova de amizade, dizendo que jamais brigariam novamente por homem algum. Na platéia, risos e mais caos, afinal, o pessoal de São José da Pica Lavada resolveu adentrar o palco para buscar suas roupas. No meio daquele circo, Wando não parou mais de chorar. De longe, o cozinheiro sorria e acenava com a mão. Em seu crachá estava escrito “Dicró”. O rapaz da cozinha acabou sendo responsabilizado pela tragédia. Mais tarde, acabou se tornando humorista e compositor.

* Notas importantes:
1. Este texto é original de 2003, mas, por razões diversas, mereceu ser republicado.
2. Esta é uma obra de ficção. Isto não aconteceu com o Wando, nem com os demais nomes envolvidos. É pura lorota com objetivo de fazer rir.


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